Autor/Autores: António Manuel Hespanha
ISBN: 978853622944-7
Acabamento: Capa Dura + Sobrecapa
Formato: 16,5x21,5 cm
Peso: 515grs.
Número de páginas: 280
Publicado em: 05/08/2010
Área(s): Direito - Teoria Geral do Direito; Direito - Diversos
O quadro de Velázquez, conhecido como “Las hilanderas”, parece estar simbolicamente dominado pela temática das redes, dos laços, das teias e da harmonia que com eles se tece. No último plano, além da lenda de Aracne, um improvável grupo de instrumentos musicais reenvia de novo para esta mesma ideia de vinculação múltipla, desta vez por meio da metáfora musical, tão usada pela doutrina política da época (composição, harmonia, contraponto, polifonia). Não falta mesmo quem veja neste quadro um apelo à necessidade de restabelecimento dos equilíbrios políticos na Monarquia Católica, perturbados com a secessão de Portugal, a que o pintor, como neto de gente do Porto e portador de nomes portugueses(Rodrigues, Silva), seria sensível. A interpretação do belíssimo quadro é controversa. Mas o que, isso sim, é incontroverso é a geometria multipolar da ordem social, assente sobre as normas do direito, mas também da religião, da graça e das virtudes conexas, dos usos enraizados e das exigências de uma natureza que traduzia, afinal, a cultura mais profunda e interiorizada da época. Este livro é dedicado a recolher lampejos dessa ordem e do modo como o direito se acomodava com ela. Por muito de estranho que haja nestas imagens da política, da ordem e do governo, não conseguimos deixar de pensar em paralelismos com as constelações normativas dos nossos dias e com o lugar claramente descentrado e subalterno que o direito – hoje como então – nelas tende a situar-se. Não nos reconhecemos em muitos detalhes do quadro, mas adaptamo-nos bem, de novo, à sua arquitetura global: o pós-moderno toca-se com o pré-moderno.
António Manuel Hespanha é Professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa; Professor visitante em várias instituições universitárias portuguesas e estrangeiras. Foi membro dos Conselhos Científicos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal), Maison des Sciences de l’Homme. e do Conseil National pour la Recherche Scienti que (França). Foi docente das Faculdades de Direito de Coimbra, de Lisboa e da Universidade de Macau, bem como da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi Comissário-geral para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. É membro do Instituto Histórico-Geográfico do Rio de Janeiro, Grande O cial da Ordem de Santiago e Prémio Universidade de Coimbra, 2005. Autor de, entre dezenas de outros trabalhos, “As Vésperas do Leviathan. Instituições e Poder Político (Portugal, séc. XVIII)”, 1994 (ed. cast. 1989); “História de Portugal moderno. Político-institucional”, 1995 (ed. brasileira, O direito dos letrados, 2006); “Cultura Jurídica Europeia. Síntese de um milénio”, 1996 (ed. ital. Bologna, 2000; ed. cast. Madrid, 2002; ed. brasileira, 2005); “Feelings of justice in the Chinese community of Macao”, 2003 (coord. e autor); “História militar de Portugal, vol. II”, Época moderna, 2004 (coord.); “Sentimentos de justice num meio urbano, Lisboa”, Ministério da Justiça, 2004 (coord. e autor); “Guiando a mão invisível Direito, Estado e lei no liberalismo monárquico português”, 2004; “O Caleidoscópio do direito. O direito e a justiça nos dias e no mundo de hoje”, 2007, Almedina, Coimbra.
CATEGORIAS - UM POUCO DE TEORIA DA HISTÓRIA DO IMAGINÁRIO SOCIAL
1 - AS CATEGORIAS DO DIREITO: O DIREITO DO INÍCIO DA ERA MODERNA E A IMAGINAÇÃO ANTROPOLÓGICA DA ANTIGA CULTURA EUROPEIA
1.1 Sujeitos e Objetos
1.2 Substância e papéis - indivíduos e status
1.3 Substância e papéis - uma propriedade multiforme
1.4 Ritos e emoções
1.5 Vontade livre e ordem social
1.6 A doutrina jurídica como fonte da antropologia histórica do Antigo Regime
2 - O AMOR NOS CAMINHOS DO DIREITO: AMOR E IUSTITIA NO DISCURSO JURÍDICO MODERNO
2.1 Introdução
2.2 Os sentimentos como objeto de estudo
2.3 Os "estados de espírito" como princípios de ação
2.4 "Estados de espírito", contextos, práticas e representações
2.5 A tradição literária teológico-jurídica como habitus social
2.6 Textos ideológicos e textos descritivos
2.7 Política e paixão
2.8 Modelo de amor
2.9 Amor e prática política
2.10 Amor e ordem
2.11 Amor e unidade
2.12 O amor concreto: a amizade
2.13 Amor, amizade e justiça
2.14 A reconstituição do amor e a função dos juristas
3 - AS OUTRAS RAZÕES DA POLÍTICA: A ECONOMIA DA "GRAÇA"
4 - QUE ESPAÇO DEIXA AO DIREITO UMA ÉTICA DA PÓS-MODERNIDADE?
5 - O ESTATUTO JURÍDICO DA MULHER NA ÉPOCA DA EXPANSÃO
5.1 Mulheres
5.2 Menos dignas
5.3 Frágeis e passivas
5.4 Lascivas, astutas e más
5.5 Portugal
6 - "CARNE DE UMA SÓ CARNE" - PARA UMA COMPREENSÃO DOS FUNDAMENTOS HISTÓRICO ANTROPOLÓGICOS DA FAMÍLIA NA ÉPOCA MODERNA
6.1 Uma comunidade natural
6.2 Carne de uma só carne
6.3 Uma comunidade fundada no amor
6.4 As hierarquias do amor
6.4 A família, comunidade generativa
6.5 A economia dos deveres familiares
6.6 Obediência e liberdade pessoal
6.7 Política das famílias e política darepública
6.8 Uma comunidade de bens e de trabalho
6.9 Marido e mulher: uma igualdade de geometria variável
6.10 A perpetuação da unidade: primogenitura e indivisibilidade sucessória do patrimônio familiar
6.11 Entre a unidade da família e a igualdade dos filhos
6.12 Outras fidelidades domésticas
6.13 A força expansiva do modelo doméstico
6.14 Orientação de leituras
7 - A NOBREZA NOS TRATADOS JURÍDICOS DOS SÉCULOS XVI A XVIII
7.1 Direito e classificações sociais
7.2 Natureza das classificações
7.3 O imaginário nobiliárquico
7.4 Títulos de aquisição
7.5 Prova
7.6 Categorias
7.7 Efeitos
8 - A ORDEM MORAL DA FAZENDA: O CÁLCULO FINANCEIRO DO ANTIGO REGIME
8.1 A teoria financeira do Antigo Regime
8.2 Constrangimentos do cálculo financeiro
9 - O CONTÍNUO REGRESSO DA ORALIDADE
9.1 Da oralidade à escrita
9.2 Lembranças da juventude
9.3 A decadência do diálogo
9.4 Suporte comunicativo e estratégias discursivas
9.5 Oralidade e escrita no direito contemporâneo
9.6 Narrativas da Galáxia pós-Gutenberg
9.7 Velhos papéis de um novo direito
9.8 De volta para a dogmática jurídica(?)
9.9 A pluralidade de narrativas no direito continental europeu
10 - AS CORES E A INSTITUIÇÃO DA ORDEM NO MUNDO DO ANTIGO REGIME
11 - OS JURISTAS COMO COUTEIROS: A ORDEM NA EUROPA OCIDENTAL DOS INÍCIOS DA IDADE MODERNA
11.1 A modernidade, antes e depois
11.2 Os juristas medievais como couteiros
11.3 Uma constelação de ordens normativas
11.4 Flexibilidade por via da graça
11.5 Flexibilidade por via da equidade
11.6 Legisladores coloniais
11.7 Conhecimento imperial
11.8 A graça impeditiva: império, humanidade e decência enquanto limites ao autogoverno
11.9 Uma questão prática
11.10 Conclusão - Voltando a Bauman: flexibilidade e ética contemporânea